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terça-feira, 4 de março de 2008

CÓMENTÁRIOS SOBRE ARTUR GOMES


É possível encontrar, na poesia de Artur Gomes (Cacomanga-RJ, 1948), uma série de referências culturais, uma espécie de mapa, uma geografia poética. Seus versos são visitados por diversos artistas e intelectuais, vivos e eternos, da arte brasileira e universal, como os músicos Caetano Veloso, Miles Davis, Janis Joplin, e John Lennon, os cineastas Godard, Truffaut, Fellini e Glauber Rocha, filósofos, dramaturgos, artistas plásticos, os poetas-amigos Dalila Teles Veras, Luíza Buarque e Zhô Bertholini, além de uma infinidade de escritores e poetas: Hilda Hilst, Paulo Leminski, Ferreira Gullar, Fernando Pessoa, Drummond, Lorca, entre outros, e especialmente seus mestres – os Andrades, Mário e Oswald e Guimarães Rosa... Macunaíma, Serafim Ponte Grande e Sagarana, são referências constantes na obra de Artur Gomes. Num diálogo intenso com a tradição literária, Macunaíma transforma-se em Fulinaíma, e, acrescida da obra do mestre Guima, metamorfosea-se em SagaraNAgens Fulinaímicas, (livro e CD ainda inéditos) poesia-música... e teatro, para os que têm o privilégio de asssistir aos shows de Artur Gomes, declamando pelas ruas, bares, palcos... pela vida. Em sua inquietude, Gomes, impregna o mundo com o som de poemas no cotidiano, quando os torna existência em sua voz. O valor deste trabalho poético e musical ganha maior intensidade quando inserido no contexto da sociedade contemporânea, no qual a poesia quase não tem espaço nem estudo.A poesia de Artur Gomes fere sem ferir. Num universo de navalhas, sexo, cio, náuseas, estrumes, sua poesia tem dois gumes: um, marcado pela tradição dos poetas malditos, retomando Baudelaire, Rimbaud e Mallarmé em inúmeros poemas; outro pela musicalidade, arma com a qual assalta/assusta o leitor desprevenido. Em lances de versos metalingüísticas, o próprio poeta define o fazer poético: “pense sinfonia em rimas raras”. Para ler Artur Gomes, devemos sempre estar atentos aos jogos de palavras, à riqueza do trabalho sonoro e rítmico, à musicalidade, à inquietude de seus conceitos, à plurissignificação, à multiplicidade das formas que as palavras assumem no espaço da folha em branco, às maiúsculas e minúsculas usadas de forma nada convencional, à criação de neologismos e novas expressões, como drummundo, sabe/sabre, fogo de palha/fogo & palha, bola de gude/gosma de grude, boca do estômago/bala no estômago. Um exemplo de trabalho formal e inovador e representado no poema “ Dia D”, cujas estrofes iniciam-se por uma vírgula.A cultura brasileira ganha valor e significado quando é convocada à sua festa criativa uma grande quantidade de elementos indígenas e africanos, relegados muitas vezes pela sociedade brasileira. Da mesma forma, estilos musicais variados, associados à vanguarda da música contemporânea, também são convocados a esta festa de livros e CDs de Artur Gomes que pode ser conferida ouvindo o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia, onde desfia com os seus parceiros Luiz Ribeiro, Naiman de Reubes Pess a sua “Marca Registrada. A palavra poética é uma ponte, uma celebração da liberdade pela qual as pessoas podem ou devem ao menos tentar cruzar, para se salvarem ou para gritarem contra as injustiças sociais e abusos que o império comete em seus extra-muros.A arte que assume Artur Gomes em seus versos e em sua vida é a arte da palavra em movimento. Sendo ator, gestor e produtor cultural, Artur caminha por diversas vertentes artísticas. Assim como o mímico Jiddu Saldanha, Artur Gomes sabe “arrancar do gesto/ a palavra chave/ da palavra a imagem xis/ tudo por um risco/ tudo por um triz”.Agradecimentos ao poeta Leo Lobos, pela leitura da obra de Artur Gomes e pelo diálogo, sugestões e comentários tecidos durante a elaboração do texto.Cristiane GrandoEscritora, fotógrafa e professoraDoutora em Teoria Literária e Literatura Comparada – Universidade de São Paulo (USP). Laureada UNESCO-ASCHBERG de Literatura 2002-2003

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