Ricardo Reis
Ricardo Sant´Anna Reis é formado em sociologia pela UFF/RJ, especialista em Ciência Política pela UFRJ/RJ, professor, ator e poeta, está editando seu primeiro livro de poesia.
CINZA INTERIOR
a Ferreira Gullara
a casa é sempre presença
chão com falhas
que esconde o cisco de ovo
não varrido
a casa recende a café da manhã
e a outros cheiros
de um dia começando
misturado aos ficados da noite
a casa é o trabalho dos anos
a oclusão dos cantosa ruminação dos insetos
a casa é o vento da tarde
é a espera pela chuva
para o viver do telhado
a casa é a saudade
é o beiral de abrigar ninhos
a algaravia das andorinhas
amor de pai/prontidão de filho
promessas de eternidade
a casa é vinho do porto
acalentando a noite fria
noite de amor lúbrico
a casa é choro de criança
lugar de morte e vigília
a casa é a casa da fazenda
avistando da varanda
os pastos no vale umbrífero
lá no longe da memória
a casa é útero ubérrimo
a parir aconchegos e apreguiça doce do não-ser
Ricardo Reis
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A VELHA CASADe navio, volto à velha casa,
e à mesma traça, num canto,
a velha herança, e a vida breve,
que a morte, decisivamente leva.
Há a crença revisitada,
e que ainda arde, e a esperança
de que o amor pese e se confirme
sobre a intolerância.
O porto, na letargia da tarde,
é o sono leve de uma criança.
Está alí o mesmo gen, trazendo a eira,
na marcha estradeira, picando a mula,
no vasto mundo, cruzando a noite,
rompendo o dia que a vida anula.
Meu navio encalhado, já não quer
navegar sem fronteiras.
e à mesma traça, num canto,
a velha herança, e a vida breve,
que a morte, decisivamente leva.
Há a crença revisitada,
e que ainda arde, e a esperança
de que o amor pese e se confirme
sobre a intolerância.
O porto, na letargia da tarde,
é o sono leve de uma criança.
Está alí o mesmo gen, trazendo a eira,
na marcha estradeira, picando a mula,
no vasto mundo, cruzando a noite,
rompendo o dia que a vida anula.
Meu navio encalhado, já não quer
navegar sem fronteiras.
Ricardo Reis
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GRÃOMinha pátria é um rio,
um monte verde,
um cio, a chuva e o estio.
Minha pátria me ensina
a evitar a morte.
Na permanência e na poeira,
a minha pátria rasteira.
No teu corpo, carpindo,
faço brotar o grão.
Minha pátria é o teu beijo,
que me ativa, alimenta,
saliva, feita de vinho,
boca, com gosto de pão.
um monte verde,
um cio, a chuva e o estio.
Minha pátria me ensina
a evitar a morte.
Na permanência e na poeira,
a minha pátria rasteira.
No teu corpo, carpindo,
faço brotar o grão.
Minha pátria é o teu beijo,
que me ativa, alimenta,
saliva, feita de vinho,
boca, com gosto de pão.
Ricardo Reis
2 Comentários:
...deixo aqui o meu agradecimento pela publicação de meus poemas neste jornal de tradição na difusão cultural no Brasil...
Por Ricardo Sant'Anna Reis, às 28 de dezembro de 2007 às 18:15
Ler Ricardo Reis virou hábito!
Sua poesia faz parte do meu dia a dia.
Adoro...
Por Cláudia Gonçalves, às 7 de janeiro de 2008 às 06:10
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